terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O Primeiro Encontro...


Duas da manhã, estava ele em casa a ver televisão, não passava nada de jeito...
Uma enorme vontade de ver alguém o invadiu, vestiu-se e saiu porta fora, sem esperança, sem rumo, sem nada, apenas corpo e mente presentes num só...

Por ruas conhecidas e desconhecidas, vagueava no escuro quase sem ser visto, cigarro após cigarro poucos minutos passavam...uma lágrima escorria-lhe pelo rosto, talvez pelo frio, talvez por tristeza, talvez porque tinha vida própria e não queria viver presa no olhar de alguém...

Tal era o silêncio que ele conseguía ouvir o seu próprio coração bater, a ganga das calças a roçar, as nuvens a dançar e a Lua a observá-lo a cada passo que dava...

A solidão acompanhava-o pelo caminho que percorria...até que chega à praia...tira as sapatilhas, sente o frio da areia molhada e mergulha na escuridão...arrasta-se até a uma rocha que parecia ter o formato esculpido das suas costas, que outrora foi o seu "pouso" de descanso da mente...

Acende mais um cigarro, tão concentrado que estava naquele silêncio, ouvia apenas o cigarro a ser consumido e a sua concentração pára de repente com um "fungar" de um nariz húmido, olha calmamente para o lado e vê-a ali parada a olhar para o vazio do mar...ganha coragem e pergunta:

-Estás aí há muito tempo...?

Ela surpreendida pelo estranho, observa-o...olha-o de cima a baixo...sente o cheiro do seu perfume entrar-lhe nas narinas e sente aquele aroma percorrer-lhe os sentidos como se fosse um abraço de carinho...entretanto, enche os pulmões com pouco ar, ganha pouca coragem e responde:

-Nem sei...não me lembro...

Ele repara no brilho nos seus olhos que reflectem a Lua, nos seus cabelos lisos, nas suas unhas moldadas e perfeitas, na sua pele branca e imagina como pode parecer algodão...fica intimidado:

-Incomodei-te...? Não quero estar incomodar-te, eu vou para outro lado...

Ela:

-Não, deixa-te estar...tens um cigarro...? Acabaram-se os meus...

Ele tira o maço do bolso e dá-lhe...ela tira um e devolve-o, tenta freneticamente acender o seu isqueiro azul, mas em vão, o isqueiro talvez por estar com frio não queria acender, ou talvez porque simplesmente tinha ficado sem vida...
Ele sem falar, empresta-lhe o seu, ela acende o cigarro e olha para o mar outra vez...
Ele fica a observa-la desta vez...em silêncio, passam uns largos minutos, acende ele um cigarro e pergunta-lhe:

-Tens nome...?

-Julliette...e tu?

-Já tive nome, agora não...

-O que lhe aconteceu...?

-Perdi-o há muito...

-Perdeste-o como...?

-Perdi-o simplesmente...

-Sentes-te triste...? Pareces abatido...

-Triste não, estou calmo...

-Porquê?

-Talvez por tua causa...

-O que tenho eu a ver com a tua calma...?

-Nem sei, mas desde que te vi, acabou a luz e o som...acabou tudo de repente, como se me tivesses roubado tudo o que tinha num olhar...

Ela cora de repente, fica sem saber o que dizer, sem ar para falar, o seu coração bate tão depressa que quase lhe sai pela boca...desvia rápidamente o olhar, levanta-se e diz:

-Vou-me embora, está a ficar tarde...gostei de te conhecer, pode ser que um dia me digas o teu nome...

Ele sem tirar desviar o olhar do dela responde:

-Eu também gostei de te conhecer Julliette...

Ela quase entra em pânico, mas quem seria este estranho que a atormentou, que lhe mexeu com os sentidos, que a invadiu assim de repente, que lhe fez bater o coração tão rápido em apenas uns momentos...? Quem seria ele...? E com uma enorme vontade de o ver outra vez afasta-se lentamente esperando a cada passo que dava, uma palavra, um gesto, um toque na sua face, um beijo talvez...ou um simples adeus...

Ele permanecia sentado no seu "pouso" improvisado, acaba de fumar o cigarro e vê Julliette a afastar-se cada vez mais...Corre para ela silenciosamente e diz-lhe:

-Queres saber o meu nome..?

-Quero!

-Porquê...?

-Não sei, preciso de saber...

-Talvez um dia te veja por aí, talvez um dia nos encontremos, talvez um dia...mas hoje não tenho nome, da próxima vez que te encontrar, e podes ter a certeza que o vou fazer, digo-te...pode ser..?

Ela sorriu, acenou com a cabeça, beijou-lhe a bochecha e começa a correr pela rua, com uma lágrima feliz no olho...mas a lágrima dela não caiu, agarrou-se e ficou...

Ele sorriu também, deixou-a ir sem impedimentos, senta-se no muro da praia, acende um cigarro e fica lá toda a noite a lembrar-se do olhar de Julliette...

Continua...? Talvez...um dia...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Muita gente...


Muita gente fala em viver a vida intensamente, mas tenho a certeza que muito poucos o sabem fazer...

Pelo que observo à minha volta, muita gente desejava por vezes ter uma vida diferente, nem que fosse por uns minutos, uns segundos, umas horas ou até uns dias...muitos queriam ser mais atrevidos, muitos queriam sentir o sangue a correr nas veias, muitos queriam sentir o cheiro do desejo, muitos queriam olhar no espelho de manhã e gostar do que se vê, muitos queriam sorrir com algo sem importância, muitos queriam saber seduzir aquele alguém que tanto deseja, muitos queriam...mas poucos o conseguem...

Os tempos mudam, as horas mudam, as pessoas mudam, o tempo e a noite muda para o dia, mas eu não quero mudar, quero manter-me assim, verdadeiro acima de tudo, tal e qual como sou, sem tirar nem pôr...

Por vezes sinto pena de algumas pessoas que não conseguem preservar a sua essência, que não conseguem viver, que vivem num estado de negação e que simplesmente sobrevivem...deve ser a força da habituação...

Nestes últimos tempos da minha vida, penso que me situo no meio destas duas "categorias" de pessoas, não tenho vontade de sair nem de nada, talvez seja uma fase, talvez seja um sinal, talvez seja algo de nada misturado com fumo e com gelado de limão...talvez me sinta um zombie...

E sim, quero e sei que vou viver um dia, não hoje, não amanhã, mas um dia...e quando esse dia chegar, espero estar aqui para o receber de braços abertos...

Se faz sentido...? Se tem sabor...? Se tem cheiro...? Se se sente na pele o seu toque na pele...? Talvez alguns encontrem a resposta, talvez alguns a tentem procurar, e provavelmente, muitos nunca irão tão pouco ter a "coragem" para se sentirem com forças para tal...